O que faz a história de uma empresa? Mais do que a
importância no cenário econômico, está seu papel no desenvolvimento do país que
a abriga, na vida de seus empregados e da sociedade. No caso da Caixa, falar de
sua construção ao longo de mais de um século é descrever um processo inovador.
Nesse exato momento, por exemplo, seus empregados resistem às tentativas de
privatização e desmonte, exigindo a continuidade do banco público a serviço do
povo brasileiro.
Foi em 12 de janeiro de 1861, no Rio de Janeiro, que a Caixa nasceu. Resgatar
um pouco dessa história, posso afirmar, é fascinante. Ainda no Império, a Caixa
vinculou-se às loterias e do período consta, também, episódio revelador do
banco como instrumento social: os depósitos de poupança de escravos, embalados
pelo sonho da compra da alforria.
Dos escravos à chegada dos imigrantes, novas adaptações. A Caixa sobreviveu ao
Estado Novo, esteve presente nos anos desenvolvimentistas de JK e foi unificada
na ditadura civil-militar, quando se criou o SFH e surgiu o FGTS. No ano que
marca o fim da ditadura, seus empregados realizaram a primeira greve nacional,
conquistando a condição de bancários, jornada de 6h e direito à sindicalização.
Também em 1985 ocorreu o primeiro Conecef. A organização dos trabalhadores se
fortalecia, mas a democracia iria exigir muitas lutas. Em 1991, há gesto
histórico de solidariedade. Após encerramento da greve de 21 dias, 110 foram
demitidos. A Fenae organizou então campanha nacional para a sustentação dessas
pessoas, em que cada empregado doava 0,03% do seu salário. 80% autorizaram o
desconto. Um ano depois, já no governo Itamar Franco, os empregados foram
readmitidos.
A partir de 2003, o Brasil passa a viver a quebra de paradigmas, uma nova
política inicia a popularização do crédito e implementação de políticas
sociais. O banco se torna o maior investidor do desenvolvimento do País, o
número de agências e empregados duplica e direitos são resgatados. A
instituição foi a primeira do sistema financeiro a contratar mulheres e ter uma
mulher presidente. Em 2016, fui também a primeira mulher eleita para o CA
(Conselho de Administração).
Em 2015, quando é apresentado o PLS 555, prevendo que empresas públicas se
tornassem sociedades anônimas, organiza-se um grande movimento de resistência.
Surge o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e, na linha de frente,
estão os empregados da Caixa.
Desde então o Brasil começa a viver uma retrospectiva sombria. No ano passado, o
governo anunciou 147 privatizações e o corte nos investimentos públicos por 20
anos. Ampliam-se os PDVs, com a saída de cerca de 15 mil empregados entre 2015
e 2018 e fechamento de 60 agências. Lotex, operações de seguros e cartões
entram na mira das privatizações.
Essa longa e rica trajetória está detalhada em meu livro Caixa, banco
dos brasileiros, que ganha agora edição digital e pode ser acessada pelo
link www.fenae.org.br/documentos/caixabancodosbrasileiros.pdf. Uma narrativa que permite ver o quanto as políticas de governo
interferem na Caixa. E que deixa o questionamento: qual é o futuro da Caixa e
do Brasil? Essa resposta passará pelas urnas e definirá se essa história tão
promissora terá novos capítulos.