Muito já se falou sobre os prejuízos que o trabalhador sofrerá com
a reforma da CLT.
Mas pouco tem sido dito, e muito poucos se deram conta, de que a
reforma trabalhista é ruim até para os empresários! - especialmente os micro e
pequenos. Um erro tremendo, um verdadeiro tiro no pé. Por vários motivos:
1- A precariedade dos novos/velhos tipos de contratos de trabalho
reduzirá ainda mais sua duração e acelerará ainda mais a rotatividade da
mão-de-obra.
A redução do patamar salarial e a instabilidade dos postos de
trabalho daí decorrentes impedirão de vez o que hoje já é tão difícil: que os
trabalhadores façam projetos de vida.
Quem vai se arriscar, nessas condições, a financiar uma casinha
num conjunto, um carro seminovo, uma geladeira, um estudo para tentar se
qualificar e mudar de vida? O baque no sistema de crédito ao consumidor, pilar
fundamental da economia, será dramático.
Consequência? O ciclo vicioso da economia vai continuar. Empresas
fechando, empresas deixando de investir, mais desemprego, mais recessão.
2- Sem sindicatos que façam frente às grandes empresas, estas
usarão seu poderio econômico para impor com mais facilidade condições
precarizantes a seus trabalhadores, criando um quadro de dumpíng - uma
concorrência desigual e prejudicial as micro e pequenas empresas, que geram
quase 2/3 dos empregos do país, mas não têm a mesma força.
3- A terceirização indiscriminada, longe de aumentar a
produtividade, ao contrário, a reduz. Diferentemente dos empregados fixos, os
terceirizados tendem a não nutrir ligação afetiva com a empresa, a não assumir
compromissos com suas metas, seus objetivos, sua missão.
Além disso, os terceirizados tendem a não conhecer ou não possuir
a mesma qualificação (formação, treinamento) para lidar com o processo
produtivo da empresa.
Isto potencializa a ocorrência de acidentes e doenças
ocupacionais, e a consequente responsabilidade financeira das empresas
tomadoras de serviços pelas indenizações correspondentes - em suma, o barato
vai sair caro.
4- Sem a válvula de escape de sindicatos fortes e representativos,
e com uma Justiça do Trabalho esvaziada, as reivindicações dos trabalhadores
tendem a ser mais desorganizadas e, consequentemente, mais imprevisíveis e
violentas, com danos potenciais ao patrimônio das empresas envolvidas e até
mesmo à integridade física de seus donos.
É bem plausível que a curto prazo nos vejamos diante de um
fenômeno curioso: pressionada pela violência dos conflitos, a classe
empresarial passar a pregar...o fortalecimento da Justiça do Trabalho! A mesma
que hoje hostiliza e intenta esvaziar, mas para transformá-la num instrumento
de repressão reivindicatória.
Em suma, sob o próprio ponto de vista dos pequenos empregadores, a
reforma trabalhista:
1- Atrapalha o crescimento econômico.
2- Precariza e não cria, ao contrário, suprime empregos.
3- Não melhora a produtividade das empresas.
4- Potencializa, em vez de pacificar conflitos.
Portanto, tanto trabalhadores quanto pequenos empresários,
deliberadamente intrigados entre si, estão sendo vítimas de um imenso,
gigantesco engodo.
O verdadeiro inimigo dos micro e pequenos empresários é o processo
de financeirização da economia. A supremacia de bancos e especuladores
sobre o setor produtivo.
Juros mais baixos, câmbio mais favorável, tributação leve e
simplificada. Essa é a verdadeira agenda dos micro e pequenos empresários.
A reforma trabalhista que hoje tramita no Congresso interessa
apenas a poucos e poderosos grupos político-econômicos, sem compromisso real
com o país.