Imagine que você é um brasileiro atento ao cenário
político e tem uma namorada chamada Janete com quem gosta de trocar ideias
sobre a conjuntura. Imagine que você foi às ruas pedir a saída da Dilma e torce
pelo Temer. Imagine que você já tem em quem votar na eleição de 2018 e conta com
a recuperação da economia para pedir um aumento de salário ao chefe.
Depois da hecatombe provocada pela colaboração da
Odebrecht, recomenda-se que você telefone imediatamente para sua namorada
Janete.
Ela pode ser a única coisa que lhe restou. Os plenários
da Câmara e do Senado foram desligados da tomada já na tarde de terça-feira.
O Planalto vive a neurose do que está por vir.
Cercado de ministros e aliados suspeitos e temendo o pior, Temer levou os
lábios ao trombone: “Não podemos paralisar o governo”, ele disse. Há cadáveres
demais no noticiário.
Mas o caráter pluripartidário da autópsia fez
desaparecer do necrotério o contraditório. Ninguém se anima a jogar pedras no
outro. Sujos e mal lavados estão todos sob o mesmo telhado de vidro. Digam o
que disserem da Odebrecht, não se pode deixar de admirar o seu caráter
democrático. O departamento de propinas da empreiteira comprou políticos de
todas as ideologias.
À medida que forem avançando as investigações você
vai conhecer a cotação de cada um. Um Renan vale quantos Padilhas? Os reis da
política estão todos nus.
A nudez é tão generalizada que corre-se o risco de
eles tentarem te convencer de que foi inventado um novo tipo de tecido. Dirão
que é belo e resistente, mas completamente invisível para os pessimistas.
Não caia nessa.
Se encontrar sua namorada Janete discuta com ela o
que fazer. O futuro da democracia nunca esteve tão nas mais do eleitor como
agora.