Diretor
de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
(DIAP), Toninho, como é mais conhecido, convive diariamente com as
articulações políticas e legislativas há quase 40 anos. Na visão dele, o país
avançou nos últimos anos na adoção de mecanismos de controle e transparência
dos gastos públicos. Mas perdeu a capacidade de discutir e buscar saídas
convergentes para temas que interferem de maneira impactante na sociedade, como
as crises política e econômica e a corrupção.
Para
Toninho, o enfrentamento dessas questões depende, inicialmente, de investimento
em educação política e cívica. “O brasileiro perdeu a capacidade de
relativizar, foi completamente envolvido por essas artimanhas do período
pós-verdade, em que os fatos, os argumentos e a verdade ficam em segundo plano,
frente a outras formas de provocar reações, os comportamentos mais primitivos
do ser humano”.
“É
preciso investir na formação cívica. A desqualificação da política é uma
tragédia. Todas as conquistas civilizatórias em direitos civis e políticos,
sociais, econômicos, culturais, difusos, coletivos, todos foram produtos de
decisão política. Não existe outra forma de organizar e resolver de forma
pacífica as contradições da sociedade se não for por meio da política”, alerta.
Essa
perda na capacidade de análise faz, segundo ele, com que o brasileiro não
perceba, por exemplo, que os sucessivos casos de corrupção que dominam o
noticiário são também resultado de um avanço da legislação e das instituições.
Mas isso não resolve o problema, admite. “Para poder contribuir e combater a
corrupção é preciso corrigir os ralos por meio dos quais se faz essa prática da
corrupção. Infelizmente isso não acontece no Brasil, mas a fulanização. Você
prende, condena a pessoa, mas não fecha a brecha que deu aquela ação delituosa.
Prende um corrupto hoje, aparece outro amanhã.”
Mudança
cultural
Na avaliação do diretor do DIAP, o
enfrentamento à corrupção também passa por mudança cultural e por uma reforma
política que barateie as campanhas eleitorais, garanta igualdade de condições
aos candidatos e unidade programática entre os partidos.
“É
preciso resgatar a ideia de que o eleitor é o titular do poder. Quando ele
delega a alguém para que, em seu nome, possa representá-lo, legislar, realocar
recurso do orçamento, administrar município ou estado, esse eleitor o faz com
base em programa, exigência de prestação de contas e alternância de poder.”
Já a
superação da crise econômica passa, na opinião de Toninho, por ajustes nas
contas públicas, inclusive com mudanças nas regras da Previdência. O problema,
segundo ele, é que as medidas defendidas pelo governo punem os assalariados e
preserva quem tem mais dinheiro.
“Todo
mundo reconhece que há necessidade de ajuste. Mas esse ajuste tem de envolver
todos os setores do país. Cada um tem de dar a sua cota de sacrifício
proporcional à sua capacidade. Infelizmente, o que está sendo feito é escolher
o que vive de salário, de benefício previdenciário ou depende de prestações do
Estado como variável do ajuste. É inaceitável fazer ajuste botando o mais pobre
para pagar o pato e preservar o mais rico”, critica.