Itaú e Banco do
Brasil devem ser os destaques positivos no 1º trimestre, Ainda assim, cenário é de cautela na temporada de balanços dos bancos,
com alta inadimplência sobretudo na pessoa física
Os grandes
bancos de capital aberto – Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil
(BB) – devem ter uma recuperação nos resultados do primeiro trimestre, após o
último período de 2022 ter sido afetado pelas provisões com o caso Americanas.
Ainda assim, o cenário é de cautela, já que a inadimplência ainda tende a subir
um pouco, especialmente em pessoa física. Porém, há espaço para as instituições
continuarem recompondo a margem financeira e as receitas de tarifas.
Levantamento feito pelo Valor com oito casas mostra que
os quatro bancos devem ter um lucro combinado de R$ 22,523 bilhões entre
janeiro e março, alta de 12,7% em relação ao quarto trimestre. As projeções, no
entanto, indicam uma queda de 9,2% na comparação com o primeiro trimestre de
2022.
Assim como no
fim do ano passado, analistas consideram que Itaú e BB serão os destaques
positivos, enquanto Bradesco e Santander devem apresentar números mais fracos.
A filial do banco espanhol é a primeira a divulgar seus números, nesta
terça-feira.
Para o J.P. Morgan, a temporada não deve ter muito
brilho, com uma leve queda nas receitas, pelo fato de os bancos estarem
migrando para linhas mais seguras, que têm menor spread. Outro fator é a
sazonalidade negativa em receitas de cartões, na comparação com o quarto
trimestre, e a fraca atividade nos mercados de capitais.
Segundo o
banco americano, a qualidade dos ativos deve continuar piorando para a maioria
das instituições, com a inadimplência pressionada pelo varejo e por casos
corporativos – também um pouco explicados pela sazonalidade. “Estamos mais
otimistas com as tendências para Itaú e BB, que podem começar a registrar métricas
de inadimplência estáveis.”
“Esperamos fortes desempenhos de Itaú e BB, enquanto
Bradesco e Santander devem mostrar alguma melhora sequencial em função de
menores despesas de provisão (devido à Americanas)”, dizem os analistas do
Citi.
A maioria dos
bancos deve ter crescimento tímido da carteira de crédito, na visão do Itaú
BBA. Para os analistas, a crise da Americanas, que gerou turbulência nos
mercados no início do trimestre, levou a uma maior aversão ao risco. “Esperamos
que o crescimento da carteira (e, portanto, da margem financeira) e as receitas
de serviços comecem 2023 no limite inferior das faixas dos guidances [projeções
dadas pelos bancos], potencialmente desencadeando revisões em baixa para o
setor. A inadimplência deve continuar a aumentar, no varejo e para PMEs (não
tanto para grandes corporações).”
Na avaliação do Goldman Sachs, os bancos podem estar
chegando perto do pico da inadimplência em pessoa física, mas é possível que
entrem em um terreno mais duro na qualidade do crédito a empresas. Os analistas
dizem estar ansiosos para ouvir os dirigentes das instituições sobre a
disposição de rolar dívidas e a situação dos mercados de capitais após o caso
Americanas. O UBS BB tem avaliação parecida, apontando que a originação de crédito
para pessoa jurídica (PJ) caiu em janeiro e fevereiro e as provisões
aumentaram. “A inadimplência PJ aumentou 0,4 ponto percentual nos dois
primeiros meses de 2023”, afirmam.
Itaú e BB
devem disputar novamente quem tem o maior resultado e a rentabilidade mais alta
no período. O banco privado tem ligeira vantagem nas projeções, com estimativa
média de lucro de R$ 8,414 bilhões. Para os analistas do Santander CIB, no caso
de Itaú a falta de novidades é uma boa notícia. Eles dizem que, apesar de a receita
ser sazonalmente mais fraca no início do ano, a inadimplência sob controle e
gastos administrativos menores devem ajudar o resultado.
Já o BB deve lucrar R$ 8,367 bilhões, segundo a média das
projeções. Para o BTG, será o destaque positivo da temporada, novamente ajudado
pela sua grande carteira agro, que deve fazer o banco expandir mais o portfólio
total do que os rivais privados. Ao mesmo tempo, como a área de banco de
investimento é menos representativa que nos pares, e os mercados estão ruins,
ela deve pesar menos.
Na outra ponta, Bradesco e Santander devem amargar
resultados ainda fracos. Mais expostos a classes de baixa renda, que sofreram
mais com a inflação, a inadimplência deve seguir em alta.
O Bradesco
deve divulgar lucro de R$ 3,683 bilhões, segundo a projeção média. Analistas da
XP dizem esperar outro ligeiro aumento na inadimplência do banco (alta de 0,2
ponto percentual, para 4,5%), mas desacelerando em comparação com o aumento de
0,4 ponto apresentados no trimestre anterior. “Isso deve levar o banco a
reportar um índice de cobertura próximo a 188%. Como resultado, esperamos que o
Bradesco reporte outro trimestre de queda no resultado recorrente.”
Para o Santander, a média aponta lucro de R$ 2,060
bilhões. “Com a inadimplência ainda em alta, tesouraria com resultados
negativos por conta da Selic elevada e a
margem com clientes sob pressão por conta de um mix mais cauteloso, esperamos
mais um ano de lucros decrescentes”, resume a Genial. Para a plataforma, a
dinâmica negativa no banco deve permanecer nos primeiros trimestres e ir
melhorando no segundo semestre. Mas isso vai depender dos impactos adicionais
de Americanas (o banco só provisionou 30% da exposição) e da tesouraria.
Por
Álvaro Campos