Com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados - medida criticada por especialistas, da qual o Sindicato é contrário - outros protocolos para reduzir o risco de contaminação por coronavírus nos locais de trabalho ganharam ainda mais importância. Uma delas é a utilização de equipamentos que assegurem a renovação adequada do ar em agências e departamentos.
Uma prova da importância da renovação do ar em ambientes fechados é um estudo conduzido pela Fundação David Hume, na Itália, que comparou dados de mais de 1.400 escolas e verificou que a adoção de sistemas de Ventilação Mecânica Controlada (VMC) reduziu em 82,5% o risco de infecções.
“Tenho falado isso em todos os lugares. Os ambientes de trabalho, em geral, tem ventilação do ar deficiente. É possível renovar o ar dos ambientes de trabalho, incluindo aqueles em que há sistema de ar-condicionado. Como sabemos, essa medida aumenta a segurança na pandemia, além de ser um direito dos trabalhadores e clientes, independentemente da pandemia”, afirma a Dra. Maria Maeno, médica e pesquisadora em Saúde do Trabalhador da Fundacentro e doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
O que é o VMC
Um sistema VMC (Ventilação Mecânica Controlada) - que no estudo italiano reduziu as infeções por Covid-19 em 82,5% nas escolas - consiste na utilização de exaustores para forçar a troca de ar entre ambientes externos e internos. Este tipo de sistema é utilizado em larga escala no hemisfério norte, onde janelas ficam fechadas na maior parte do ano para manter o aquecimento.
Segundo Erick Sousa, pesquisador do Observatório Covid-19 BR e doutorando da Universidade Federal de Goiás (UFG), para ambientes com uso de ar-condicionado o sistema de exaustão deveria ser aplicado como forma de prevenção ao contágio pelo coronavírus.
“Mas aqui no Brasil essa questão foi deixada de lado, principalmente com o uso massivo de equipamentos do tipo split. Se a renovação de ar não foi contemplada no projeto, deixando para ser adaptada depois, ela anda na contramão da climatização, porque o ar colocado de fora no ambiente aquece a massa climatizada. E acaba consumindo mais energia”, explicou o pesquisador em entrevista para o Jornal da USP.
Monitoramento
Segundo o pesquisador, seja com um sistema VMC ou através de adaptações que cumpram o papel de exaustores, é importante o monitoramento constante da qualidade do ar por meio de medidores de CO2.
Ao mostrar a proporção de CO2 no ar, o medidor aponta se o ambiente está seguro ou representa alto risco, quando medidas precisam ser tomadas como, por exemplo, maior ventilação, diminuição da quantidade de pessoas, intervalos para troca de ar e deposição dos aerossóis.
“O coronavírus é transmitido pelo ar. A pandemia não acabou. Portanto, neste momento em que medidas de proteção estão sendo flexibilizadas por decisões mais políticas do que científicas, é fundamental que os bancos encontrem formas de assegurar e monitorar a renovação do ar adequada nos locais de trabalho, protegendo bancários e clientes. Acabar com o distanciamento físico, com a obrigatoriedade do uso de máscaras e, ao mesmo tempo, não investir na renovação e monitoramento da qualidade do ar nos ambientes de trabalho é maximizar os riscos de transmissão”
Carlos Damarindo, secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato
“Os bancos nem sequer apresentaram os estudos que fundamentam suas atuais decisões relacionadas com a pandemia e com a proteção de trabalhadores e clientes. O Sindicato, assim como as demais entidades representativas, tem feito a sua parte, buscando a ciência, priorizando a saúde e a vida. Porém, os bancos buscam economia, apostam na desinformação e, muitas vezes, se omitem em relação as medidas de prevenção, que são de responsabilidade dos SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho). É preciso que os bancos olhem com a seriedade e urgência necessárias para a questão da adequada renovação do ar e tomem as providências necessárias para garantir um ambiente de trabalho saudável”, conclui Damarindo.