A segunda mesa de debates do 27º Congresso Nacional dos Funcionários
do Banco do Brasil tratou do “Retrato do Banco do Brasil nos últimos
anos”, com a participação do ex-gerente de Soluções do Banco do Brasil,
de Jean Moreira Rodrigues, e da economista Nádia Vieira de Souza, do
Departamento Intersindical e Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese).
Jean Rodrigues abordou a discussão falando sobre as
transformações na economia e nos modelos de negócio e como o Banco do
Brasil se comportou no decorrer dessas mudanças. Inicialmente ele
destacou que as transformações na economia mundial se caracterizam pela
volatilidade, incerteza, complexidade, e ambiguidade dos cenários.
“Ninguém imaginava a pandemia, por exemplo. Você não consegue fazer mais
previsão. Antes, se faziam previsões para cinco ou dez anos. Isso não
acontece mais. As novas tecnologias transformaram e pautaram os modelos
de negócios. Isso impacta as economias e a própria indústria
financeira”, pontuou.
Jean Rodrigues ressaltou que a criação do
Banco do Brasil aconteceu a partir de modelos de séculos atrás. Empresas
e pessoas cada vez mais ficam menos equipados para compreender esse
crescimento exponencial em que vivemos. Por outro lado, Jean destacou
que o sistema bancário brasileiro é altamente concentrado, detém 77% dos
ativos totais e 79% dos depósitos totais. “Isso faz com que o Banco
Central regule essa concorrência baixa adotando uma série de medidas
para promover maior competição no sistema bancário. São fintechs, é o
PIX, o open banking, pagamentos e transferência de fundos em real-time”,
exemplificou.
Para acompanhar as mudanças, Jean afirmou que os
bancos investem muito em tecnologia e um dos efeitos é a redução do
número de agências. “Isso tem produzido impactos nas economias locais,
mas também afeta o emprego bancário”, observou. Entre as décadas de 1930
e 1980, lembrou Jean, o Estado brasileiro promoveu o processo de
industrialização com os bancos públicos. “A inciativa privada não teve
interesse no passado e no presente esse interesse também é muito pouco”,
observou. Jean Rodrigues destacou que a mudança no Banco do Brasil
ocorreu a partir de 2016. “O banco nunca deixou de buscar a
rentabilidade. Mas, até 2015, além do foco na rentabilidade, também
tinha um foco muito grande no desenvolvimento do país. A partir de 2016,
o governo Temer começou a fazer a mudança. O foco passou a ser mais a
rentabilidade em si com uma insistência para buscar rentabilidade
compatível com bancos privados. O Banco do Brasil deixa de ter papel de
fomento da economia brasileira, que justifique a sua manutenção como uma
empresa pública”, conclui.
A economista do Departamento Intersindical e Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) apresentou dados do balanço do Banco do Brasil
no 1º semestre de 2021. O banco obteve lucro líquido ajustado de quase
R$ 10 bilhões no 1º semestre de 2021, crescimento de 48,4% em relação ao
mesmo período de 2020. No 2º trimestre, o lucro foi de R$ 5 bilhões,
aumento de 52,2% em relação ao mesmo trimestre de 2020.
Em um
ano, o banco fechou 6.956 postos de trabalho e, do primeiro para o
segundo semestre de 2021, essa redução de pessoal se acentuou ainda
mais. Somente neste segundo trimestre, no escopo do Programa de
Adequação de Quadros (PAQ) e do Programa de Desligamento Extraordinário
(PDE), o banco reduziu seu quadro de pessoal em 2.358 funcionários. Além
disso, em 12 meses, foram fechadas 390 agências e 33 postos de
atendimento bancário e o número de clientes aumentou em 2,9 milhões.
As
receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias alcançaram R$
14,1 bilhões no ano, enquanto as despesas com pessoal, incluindo o
pagamento da PLR, somou R$ 12 bilhões no período. Ou seja, somente com a
receita de tarifas e serviços bancários, que representa uma parte
ínfima de toda a arrecadação do banco, é possível cobrir todas as
despesas com funcionários e ainda sobram 17,4% do valor.